quarta-feira, 2 de março de 2011

Quanto custa a transição para uma economia inclusiva, verde e responsável?

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) lançou, na semana passada, o relatório sobre economia verde, no qual aponta quanto custa fazer a transição da economia atual para a economia verde: 2% do PIB mundial, ou 1,3 trilhão de dólares, por ano. Esta quantia, segundo o Pnuma, é gasta, hoje, para pagar subsídios a petróleo, agricultura e pesca, atividades praticadas de maneira ainda insustentável, mas cujo retorno é possível “medir”, por preço.

A economia verde precisa de um “empurrão definitivo”, de modo a estimular que este investimento, em vez de ir para atividades tradicionais, seja direcionado para esta economia que nasce. É preciso, então, haver reformas políticas nacionais e internacionais, marcos regulatórios, acordos e tratados que mexem tanto na maneira de cada país lidar com sua própria economia quanto nas relações de comércio e trocas internacionais.

Na direção desta iniciativa, algumas empresas líderes e o Instituto Ethos apresentaram, no último dia 24 de fevereiro, a Plataforma por uma economia inclusiva, verde e responsável. Ela já foi comentada aqui em seus aspectos gerais. Vamos, hoje, analisá-la do ponto de vista do quanto ela pode agregar para influenciar esta mudança preconizada pelo Pnuma.

O objetivo desta plataforma é promover uma mudança no mercado e, por meio dela, ir mobilizando a sociedade e os governos para o estabelecimento de marcos legais que garantam a transição para esta nova economia, não apenas verde, mas: inclusiva, verde e responsável.

O importante a ressaltar é que esta transição precisa ser feita com progresso econômico para garantir a inclusão. A ressalva tem procedência porque, para muitos especialistas e militantes da sustentabilidade, o mundo deveria parar de crescer. Só assim seria possível diminuir a pressão do consumo sobre os recursos naturais do planeta.

O Pnuma enfatiza, no relatório, que a aplicação dos recursos nos setores adequados garantirá a transição com crescimento, redução da pobreza e preservação do meio ambiente.

Os setores apontados pelo Pnuma como estratégicos e capazes de gerar crescimento durante a transição para a nova economia são:

- agricultura;
– construção;
– pesca;
– silvicultura, referente à recuperação florestal;
– indústria;
– turismo;
– transportes;
– gestão de resíduos e
– água, com foco nas questões de saneamento.

De acordo com simulações feitas pelos pesquisadores do relatório do Pnuma, um cenário de investimento verde atingiria taxas anuais de crescimento maiores que o cenário habitual de negócios, entre cinco e dez anos.

O Pnuma ainda alerta que as medidas devem ser adotadas tanto por países desenvolvidos quanto por nações que ainda estão em desenvolvimento; e o pontapé inicial deve ser dado pelos governos, que, ao apresentar bons resultados em suas políticas públicas, incentivará o setor privado a seguir o mesmo caminho, rumo à transição para esta nova economia. No Brasil, no entanto, temos tido experiência inversa, com as empresas influenciando o governo na criação de políticas públicas, como no caso das mudanças climáticas e da biodiversidade.

Mas como os governos darão este pontapé inicial? Sob quais bases eles podem incentivar o setor privado a mudar o rumo dos negócios? As respostas a estas perguntas são fundamentais para o sucesso da iniciativa. E dependem de uma questão até agora não discutida profundamente nem pelas empresas, nem pela sociedade e nem pelos governos: a precificação dos chamados “ativos naturais”. Quanto valem os estoques de peixes dos oceanos? E as florestas nativas ainda em pé no mundo? Recuperar uma área degradada no Brasil vale mais ou menos do que outra na África ou na América do Norte? Um jequitibá de 200 anos dá mais lucro em pé na floresta ou derrubado e transformado em toras de madeira?

E ainda: como tratamos os padrões de consumo e estilo de vida? Qual padrão alimentar devemos adotar? Tem sentido utilizar um carro que gasta 90% de energia para se por em movimento e levar uma só pessoa?

Sem estas respostas, não se criarão referências que possibilitem não só os empreendedores, mas os cidadãos comuns visualizar concretamente as perspectivas do mundo novo que precisamos inventar.

Lançada a visão de futuro contida na plataforma por uma economia inclusiva, verde e responsável, a partir de agora pretendemos, aqui no Brasil, em diálogo com empresas, governos e sociedade civil, definir ações concretas para o avanço desta agenda.

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