segunda-feira, 28 de março de 2011

Agrotóxico no leite materno!

Pesquisa feita pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) revela que o leite materno de moradoras da cidade de Lucas do Rio Verde está contaminado com DDE e outros cinco tipos de agrotóxicos. A pesquisa revelou que 100% das amostras indicam a contaminação do leite por pelo menos um agrotóxico. Em todas as mães foram encontrados resíduos de DDE, um derivado do DDT, agrotóxico proibido no Brasil há mais de dez anos. Dos resíduos encontrados, a maioria é de organoclorados, substâncias de alta toxicidade, capacidade de dispersão e resistência tanto no ambiente quanto no corpo humano.

Lucas do Rio Verde é uma cidade de 45 mil habitantes localizada no centro do estado de Mato Grosso. É considerada a “vitrine” do agronegócio brasileiro e apresenta um dos maiores IDHs (Ìndice de Desenvolvimento Humano) entre os municípios do país.

No entanto, a partir de um acidente aéreo de pulverização de defensivos agrícolas que contaminou toda a cidade, Lucas do Rio Verde passou a fazer parte de um projeto de pesquisa coordenado pelo professor e doutor em toxicologia Wanderlei Pignatti,em parceria com a Fiocruz e a Universidade Federal de Mato Grosso. Foram estudados os resíduos de agrotóxicos em amostras de água de chuva, de poços artesianos, de sangue e urina humanos, de anfíbios, e do leite materno de 62 mães. Os resultados espantam: a exposição de um morador a agrotóxicos no município durante um ano é de aproximadamente 136 litros por habitante, quase 45 vezes maior que a média nacional — de 3,66 litros.

E todas as 62 mães pesquisadas tinham agrotóxico no leite materno. A substância mais encontrada foi o DDD, um derivado do DDT. Como o produto está proibido desde 1998, a pesquisadora Danielly Palma ressalta que o resultado indica intoxicação passada, o que é mais grave. O DDD e o DDT são organoclorados, inseticidas à base de carbono, hidrogênio e cloro, que às vezes contêm átomos de enxofre e oxigênio; são considerados agrotóxicos perigosos devido à sua longa permanência no meio ambiente e no corpo humano. Os organoclorados foram proibidos no Brasil em 1998; esta pesquisa foi realizada em 2010. Isto mostra a resistência da substância no organismo de pessoas que vivem numa cidade considerada de boa qualidade de vida. Os organoclorados podem causar câncer.

O que é ruim vai ficando pior à medida que avançamos nos resultados obtidos pelo estudo de Danielly Palma. Ela também encontrou endossulfan em 44% das amostras de leite e de alpha-endossulfam, em 32%.

O endossulfan (e derivados) é um produto altamente tóxico, também de grande resistência ( isto é, permanece no organismo, no solo e na água por muito tempo) que está associado a problemas endócrinos e no aparelho reprodutivo. Será banido do Brasil só a partir de 2013.

Em junho do ano passado, fizemos um comentário aqui mesmo na CBN, alertando para o fato de que os alimentos que ingerimos diariamente possuem altas doses de veneno. A pesquisa foi feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que estudou 3130 amostras de alimentos e concluiu que, em 29% delas, havia problemas diversos, desde o uso de defensivos proibidos no território nacional até alto grau de resíduos no alimento. Ao uso exagerado dos defensivos, que nos torna campeões mundiais da utilização destas substâncias, ainda se soma outro gravíssimo problema: o Brasil é o principal destino de uma série produtos banidos de outros países.

A Anvisa vem agindo para banir ou restringir o uso destas substâncias, mas todas elas tiveram ou têm um “prazo de carência”, vamos dizer assim, até deixarem de ser utilizadas. Este prazo encerra-se em 2013. E até lá?

O que faremos até lá?

Trabalhar com mais responsabilidade social é a única possibilidade. Os produtores podem pressionar por informações corretas por parte dos fornecedores destes insumos, afinal, são os clientes, e fazer o uso adequado destas substâncias.

As redes de varejo, por sua vez, podem tomar conhecer a origem dos produtos no que tange ao uso de agrotóxicos, assim como já fizeram com a carne, rastreando a cadeia de fornecedores para evitar trabalho escravo.

E a indústria de defensivos deveria utilizar padrões mais altos no país, semelhantes àqueles já praticados em outros países, tomando a iniciativa de substituir os produtos cujo impacto negativo na saúde humana já é comprovado.

Não podemos deixar de mencionar que a humanidade tem um enorme desafio futuro: garantir a segurança alimentar de 9 bilhões de seres humanos, a estimativa da população para 2050.

Certamente, não aumentaremos produtividade sem tecnologia e inovação na área agrícola. Mas como fazer isso sem contaminar água e solo e sem esgotar os já esgotados recursos naturais? O Teeb, (The Economics of Ecossystem and Biodiversity) aponta um caminho possível.

O Teeb é uma iniciativa internacional coordenada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente que busca chamar a atenção do mundo sobre a maneira como a natureza pode ajudar a economia, desde que sejam respeitados seus ecossistemas e a biodiversidade. Precisamos encontrar um modelo eficiente de produção de alimentos no qual a natureza contribua desde que não a degrademos. Este modelo certamente não é Lucas do Rio Verde.

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