sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A importância dos ecossistemas e da biodiversidade para os países e para os negócios

Os ecossistemas e a diversidade biológica representam a riqueza natural do planeta e provêem a base para a subsistência e a prosperidade da espécie humana. No entanto, estão desaparecendo numa velocidade impressionante, por ação do próprio ser humano. Estamos destruindo os recursos que precisamos para continuar vivendo neste planeta e nem ao menos chegamos a conhecer todo o potencial que eles contêm.

O objetivo da Conferência das Partes de Nagoia, no Japão, este ano, é reduzir drasticamente esta destruição em um curto período de tempo. Trata-se de um objetivo ambicioso que só será atingido com o engajamento de toda a sociedade, dos governos e também das empresas, em âmbito nacional e internacional. Para chamar a atenção a respeito dos benefícios econômicos globais da biodiversidade e somar forças em favor de ações concretas, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) das Nações Unidas vem fazendo uma série de cinco estudos dirigidos a cinco públicos de interesse, que, justamente, mede o papel dos ecossistemas e da biodiversidade na economia. Os públicos são: economistas e ecologistas (Teeb 0); formuladores nacionais e in ternacionais de políticas públicas (Teeb 1); para Desenvolvimento Local e Regional (Teeb2); Negócios (Teeb 3); para Cidadãos (Teeb 4. )

O estudo, na verdade, foi encomendado pelo chamado G8 + 5, grupo dos oito países mais industrializados mais Brasil, Índia, África do Sul, China e México. Chamado de Teeb, sigla em inglês para o título “A economia dos ecossistemas e da biodiversidade”, esta série traz casos exemplares de regiões que lucraram com o uso responsável dos recursos naturais e destaca decisões políticas que alteraram a degradação ambiental e que contaram com a participação das comunidades.

O relatório é realizado por 140 especialistas de 40 países, com apoio financeiro da Comissão Européia, da Holanda, da Grã Bretanha, da Noruega, da Alemanha e da Suécia. A coordenação geral desta iniciativa é do economista indiano Pavan Sukhdev. A íntegra dos cinco estudos será apresentada só em Nagóia, mas relatórios setoriais estão sendo divulgados em eventos que ocorrem em vários países.

Hoje, por exemplo, termina em Curitiba um seminário internacional sobre o valor da natureza para o desenvolvimento local, em que foram apresentados os resultados do Teeb para a América do Sul, mostrando o continente como superpotência da biodiversidade, principalmente o Brasil, pois a maior ocorrência de biodiversidade e de ecossistemas diversificados está em nosso território.

Pela pesquisa apresentada, o Brasil tem um dos maiores índices de área protegida do planeta, mas um dos menores investimentos por hectare, entre os países pesquisados. O país investe um pouco mais de 300 milhões de dólares para manter quase 75 milhões de hectares de áreas de proteção e conservação, o que dá 4 dólares por hectare. A Argentina investe 7 dólares /hectare, a Costa Rica, 18 dólares, o México, 20 dólares, a África do Sul, 34 dólares e os Estados Unidos (os que mais investem), 78 dólares por hectare.

A manutenção dos serviços da natureza que permitem a permanência destas populações em seus locais de origem também garante a continuidade de muitos negócios. O Teeb calcula que o mercado farmacêutico, que movimenta algo em torno de 640 bilhões de dólares por ano, depende em até 50% dos recursos genéticos da biodiversidade. O carbono que estas florestas retêm representa uma economia de quase quatro trilhões de dólares por ano em ações de mitigação. Deveríamos encontrar maneiras de transformar esta riqueza em renda da população.

O Teeb também lista o valor de alguns potenciais negócios que a biodiversidade e os chamados “serviços da natureza” podem abrir. Os produtos orgânicos, que em 2008 representavam 40 bilhões de dólares /ano (ou 2,5% de todo o mercado de alimentação e bebida), podem chegar a 220 bilhões de dólares em 2020 e a 900 bilhões em 2050. Contratos de pesquisas sobre usos sustentáveis variados da biodiversidade que, em 2008 somaram 30 milhões de dólares, podem ir a 100 milhões em 2020 e a 500 milhões em 2020.

Estes números demonstram que as empresas não só têm a lucrar muito com a manutenção dos ecossistemas e biodiversidade como são indutoras imprescindíveis para a valorização deles, transformando-os em negócios sustentáveis. Por isso, elas precisam estar integradas não só nos debates como também nas ações pela preservação. Assim sendo, no Brasil, Alcoa, Phillips, Natura, Walmart, CPFL e Vale, com apoio de várias entidades, inclusive o Instituto Ethos, lançaram o Movimento Empresarial pela Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade que vai lançar, no próximo dia 23 de setembro, uma carta em que elas se comprometem a adotar ações para conservação e uso sustentável da biodiversidade e levar ao governo propostas com este mesmo objetivo. Ontem foi realizado um debate virtual – o Wikidebate – para recolher sugestões dos internautas para aprimorar o conteúdo da carta. A iniciativa comprova que, ao menos em nosso país, a importância econômica dos ecossistemas já entrou na pauta das empresas. Elas já perceberam que não investir agora no cuidado e na preservação representará prejuízo certo num futuro bem próximo. A sociedade e os governos precisam também entrar nesta mobilização. Inclusive, ainda dá tempo de transformar os temas de biodiversidade, ecossistemas, clima e outros em assunto principal da campanha eleitoral. Sustentabilidade não é só natureza preservada, é também e principalmente qualidade de vida.

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