Post enviado por Cristina Spera
26 de agosto de 2009
São Paulo - SP
Pode a legislação ambiental cada vez mais restritiva incentivar a criatividade e o empreendedorismo?
Sim e as grandes construtoras brasileiras, que já exportam seus serviços para muitos países, sabem disso.
No seminário realizado ontem, no WTC, “Brasil e as mudanças climáticas: oportunidades para uma economia de baixo carbono”, Otávio Marques de Azevedo, diretor-presidente da Andrade Gutierrez, comentou o exemplo da própria empresa que dirige. Responsável pela construção das grandes hidrelétricas do país e de obras de infra-estrutura aqui e lá fora, a AG foi adaptando seus métodos, processos e serviços às exigências ambientais cada vez mais restritivas. A preocupação atual com o baixo impacto é generalizada, em contraste com os anos 70, por exemplo, quando a questão era apenas crescer. Neste período, a Andrade Gutierrez participou do consórcio que ergueu a hidrelétrica de Tucuruí, cujo lago é hoje considerado uma verdadeira bomba emissora de gás metano. Em contraste, a empresa hoje está construindo, em parceria com a Carioca Christiani Nielsen, o gasoduto Coari-Anamã, um trecho de 196 km que atravessa oito municípios do estado do Amazonas, passa por floresta fechada e rios de até 60 m de profundidade, em áreas onde chove muito e, por isso, o solo é saturado, dificultando a locomoção. As obras, iniciadas em 2006, precisaram atender também ao quesito de baixo impacto ambiental. Por isso, este gasoduto – que tem outros três trechos construídos por outros consórcios – já é considerado um marco na engenharia brasileira.
Esta obra monumental vem exigindo superação e criatividade dos profissionais envolvidos. O trecho é constituído por uma linha-tronco de 196 km e 20 polegadas de diâmetro, com mais 75 km de ramais de 10 polegadas de diâmetro. Estes dutos foram construídos em áreas pantanosas de grandes inundações e dificuldades climáticas, em meio à floresta densa que precisava manter-se intocada. Em um trecho do caminho, foi preciso atravessar o rio Solimões, por baixo, com largura entre as margens de quase 2km.
Os métodos tradicionais de engenharia e de logística não dariam conta dos desafios. Por isso, a Andrade Gutierrez inovou. Usou GPS para realizar as perfurações nos lugares exatos, importou e adaptou equipamento de perfuração com baixo impacto, transportou tubos por helicópteros e levou estruturas pré-montadas em balsas para armazenar o material (de modo que, depois da obra, pudessem ser recolhidas, sem deixar resíduos na floresta).
O licenciamento ambiental foi obtido por meio de estudos elaborados pela Universidade Federal do Amazonas que, para redigir o documento final, realizou audiências públicas em todos os municípios do traçado do gasoduto, com mais de três mil participantes. Por causa do licenciamento, foram estabelecidos os ramais secundários para a entrega do gás em todos os oito municípios (não previstos no projeto original) e um programa de compensações socioambientais que está melhorando a vida de 135 comunidades e dos moradores das cidades cortadas pelo gasoduto. Por isso, este licenciamento tornou-se referência internacional para este tipo de obra.
Para aqueles que ainda vêem a legislação ambiental como “obstáculo”, este é um exemplo de que ela promove inovação.
Esta é o tema de Sério Mindlin, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, no boletim Responsabilidade Social, da rádio CBN, no último dia 26 de agosto.
O boletim Responsabilidade Social vai ao ar pela rádio CBN FM, todas as segundas, quartas e sextas-feiras às 15h. O boletim faz parte do programa CBN Total, apresentado por Adalberto Piotto.
quinta-feira, 27 de agosto de 2009
Exigências ambientais como incentivo a inovações
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