terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

As comunidades pacificadas no Rio tornam-se centros de bons negócios e lucros

por Paulo Itacarambi

Aproveitando uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo neste domingo (13/2), gostaria de retomar um assunto que já comentei aqui na CBN. A notícia do Estadão relata que a pacificação das comunidades cariocas tem aberto espaço para empresas lucrarem com o novo ambiente. Afinal, parte dos 30 milhões de brasileiros que “subiram” para a classe C vivem nessas comunidades e têm necessidades de consumo.


Comunidades pacificadas mostram que o Estado precisa estar presente para garantir a segurança e um cotidiano tranquilo. Mas a presença da iniciativa privada oferecendo produtos e serviços de que esses milhões de pessoas estão carentes também é garantia de segurança e, principalmente, de desenvolvimento das comunidades.

Eis o grande desafio das empresas: como “ocupar o espaço” e atender tais demandas? Por enquanto, as maiores beneficiárias desse mercado têm sido as empresas fornecedoras de serviços de TV por assinatura, telefonia e energia elétrica. Ou seja, o “gato” também está em extinção. A informalidade vem sendo substituída por contas de luz, TV paga e telefone que, se significam “despesas” aos moradores, também lhes garantem a cidadania.

Para muitas outras companhias, porém, esses cidadãos ainda vivem em locais “inacessíveis”. Na verdade, parece que a nova realidade ainda não produziu mudanças entre os gestores, que não sabem direito o que fazer com esse imenso potencial.

Por outro lado, algumas empresas já perceberam que precisam abordar esse público de maneira totalmente nova. A operadora OI, por exemplo, aproveita a calmaria para reverter o cenário de queda nas vendas de linhas fixas. A empresa já teve 37 mil assinantes no Complexo do Alemão, em 2007, e viu esse número baixar para 7.000 em 2010. Observa agora como que uma cidade de 600 mil habitantes surgir no meio do Rio de Janeiro e, com isso, pode ter como objetivo chegar ao fim de 2011 com 50 mil novos assinantes no local.

Nesse sentido, vale a pena também retomar outra idéia já comentada aqui na CBN. A de que um dos principais objetivos das empresas (e também da sociedade e dos governos) deve ser buscar o bem-estar, por meio da redução das desigualdades.

Como já comentamos, as dificuldades das empresas podem ser desdobradas em cinco dimensões:
1 – Não saber se comunicar com o público;
2 – Não conseguir trabalhar com margens de lucro mais baixas, apostando mais no volume de vendas;
3 – Ter dificuldade em atender públicos diversos, conciliando as necessidades das classes A e B (supostamente mais sofisticadas) com as das classes C e D. Algumas empresas lançam uma “segunda marca”, mas é isso mesmo que precisa ser feito?
4 – Ter dificuldade em orientar essas famílias sobre consumo consciente. No caso das comunidades, as empresas de energia elétrica têm feito campanhas para eficiência energética e até oferecido descontos para quem legaliza a sua ligação e paga em dia por um ano. A orientação no consumo vem animando os moradores a trocar eletrodomésticos antigos por modelos mais novos e eficientes. A existência oficial de endereço permite que o varejo entregue a compra na casa do morador. Esta é uma das maneiras de orientar o consumo. As próprias empresas podem encontrar outras maneiras, adequadas aos produtos e serviços que oferecem.
5 – Angariar a confiança dos consumidores. Muitas vezes, eles não acreditam nas informações contidas em rótulos ou fornecidas por teleoperadores. Sem confiança, não será possível enfrentar os outros quatro desafios.

Estes desafios precisam ser encarados pelas empresas por um prisma inovador. Elas precisam entender que negócios também são difusores de cidadania e que acesso ao mercado também significa acesso a direitos.

Encontrar soluções inovadoras para vencer esses desafios significa bem mais do que garantir lucros para o negócio. Significa também contribuir para a consolidação de uma economia inclusiva, na qual os cidadãos são não apenas consumidores, mas construtores de seu próprio destino.

Vencer tais obstáculos não é tarefa simples, mas sua superação pode abrir as portas para a sociedade mais sustentável e justa que buscamos.

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